Por que o Incrível Hulk e o Wolverine são tão populares?
Porque eles tornam explícito algo que é comum a todos nós; a luta contra nossa fera interior.
Wolverine e Hulk já se defrontaram várias vezes
O Hulk foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1962. Lee conta que se inspirou na literatura para criar seu drama: mais especificamente, nos romances Frankestein, de Mary Shelley, e O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Todo mundo conhece a história: após a explosão de uma bomba gama, o franzino cientista Bruce Banner se transforma, em momentos de raiva, no monstro verde (às vezes cinza) Hulk. O Hulk, à semelhança do monstro de Frankenstein, não é exatamente mau: apenas quer ser deixado em paz. Porém sua ira é incontrolável e sua grande força faz muitos estragos em propriedades. Quase sempre, o Hulk acaba protegendo a humanidade, derrotando monstros realmente malignos. Porém, isso não impede que os "homenzinhos" (o exército, a polícia) fiquem na cola dele. Bruce Banner, o "médico" dessa equação, tenta a todo custo suprimir ou se livrar de seu monstro. Durante os últimos 50 anos, milhares de fãs têm acompanhado suas tentativas frustradas de controlar o que não pode ser controlado.
O "Golias Esmeralda"
Wolverine surgiu nos quadrinhos em 1974, com roteiros de Len Wein e desenhos de Herb Trimpe, coincidentemente, em uma história do Hulk. James Howlett, conhecido da maioria das pessoas como Logan, é um mutante com mais de um século de idade, com sentidos aguçados como os de um animal e um fator de cura que o torna praticamente imortal. A vida de Logan é marcada pela tragédia desde cedo, tendo visto a crueldade de muitas guerras. Na idade adulta, foi capturado por um projeto secreto do governo chamado Arma X. Neste projeto, enxertaram em seus ossos o metal indestrutível adamantium, o que fez ele se tornar um soldado ainda mais mortífero. Logan escapou do projeto e ficou perambulando pelas matas canadenses, vivendo como um animal, até ser encontrado por um casal que cuidou dele. Mais tarde ele se tornaria agente do serviço secreto canadense, e depois, membro dos X-Men. Wolverine é geralmente apresentado como um selvagem violento, que mata primeiro e pergunta depois. Quando se conhece melhor o personagem, percebe-se que na verdade ele luta para ser diferente. Seu sonho é ser honrado e sereno como um guerreiro samurai. Porém, muitas vezes em meio às batalhas, o herói não consegue conter sua sede de sangue.
O "Baixinho Invocado"
É justamente essa luta que Banner/Hulk e Logan/Wolverine travam todos os dias que faz com que milhares de fãs se identifiquem. Afinal, todos nós já nos sentimos assim. Em vários momentos de nossas vidas, nos descontrolamos, "explodimos" e machucamos pessoas ao nosso redor. Quem sabe o que faríamos se tivéssemos garras de metal nos braços ou a força para derrubar prédios? Quando a fúria passa, nos arrependemos, mas o estrago já foi feito. Prometemos a nós mesmos que vamos nos controlar, mas antes que possamos perceber, a fera interior dá às caras novamente.
A perda de controle
E isso não acontece apenas com a falta de controle da ira. Várias atitudes negativas voltam a nos atacar repetidamente: inveja, ciúme, luxúria, cobiça, mentira, egoísmo, preguiça, indiferença, amargura... A cada manhã prometemos a nós mesmos que seremos pessoas melhores, e ao fim do dia, percebemos que o monstro despertou mais uma vez. Ao pensarmos que um dia teremos de dar contas de nossas vidas a um Deus pessoal e justo, mal conseguimos disfarçar o medo de seu julgamento, pois sabemos o quanto estamos longe de seu padrão.
O Apóstolo Paulo fala sobre isso em sua carta aos Romanos, capítulo 7, versículos 15 a 21:
Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a Lei é boa. Neste caso, não sou eu mais quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, este continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim.
Que declaração honesta e sofrida! No entanto, ela revela a verdade sobre o ser humano muito melhor do que qualquer sistema teológico ou filosófico. Muitas teorias surgiram para afirmar que o homem é intrinsecamente bom; o que o corrompe é a sociedade ou a ignorância. Rosseau é o exemplo clássico disso, e até hoje muitos concordam com ele. O pensamento bíblico é claro: o ser humano é mau desde sua concepção. Ele herdou uma tendência para o egoísmo, para fugir do verdadeiro amor e se voltar para si mesmo. Os teólogos chamam essa tendência inata de "pecado original". Curiosamente, Sigmund Freud, famoso por sua militância contra o cristianismo, tinha uma postura parecida: o homem já nasce com um "defeito de fábrica"; tem uma personalidade cindida e é intrinsecamente egoísta, ciumento e violento, sendo que a sociedade e a cultura ajudam como podem a conter essas pulsões primitivas, não sem graves conseqüências.
Jean-Jacques Rosseau: "O homem é bom"
Sigmund Freud: "O homem é mau"
Qual seria então, a saída? Simplesmente entender que somos assim mesmo, e tocar o barco? Parece ser essa a solução que Banner encontra no filme Vingadores: pouco antes do clímax, o doutor revela qual o segredo para controlar sua transformação: "Eu estou sempre com raiva". A saída seria então, assumir e aceitar esse lado sombrio de nossa personalidade, para que ele não nos controle? Jung defende essa posição, em seus estudos sobre a sombra, o lado obscuro de nós mesmos, que deve ser aceito, compreendido e integrado para uma saúde psíquica.
Carl Gustav Jung: "Aceitar a própria sombra"
O Evangelho, no entanto, apresenta uma outra possibilidade. Não precisamos entrar em desespero com nossas faltas, num perfeccionismo neurótico que não leva a lugar nenhum. Também não precisamos nos conformar com nossas imperfeições, numa atitude conhecida como Síndrome de Gabriela: ("Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...") rsrsrsr. De que maneira devemos lidar com nossa fera interior?
1. Entender e aceitar a graça de Deus: Jesus Cristo, na cruz, pagou o preço de nossas atitudes egoístas (em termos técnicos teológicos, ele fez propiciação por nossos pecados). Cristo assumiu nossa natureza humana para levar em seu corpo os pecados de toda a humanidade, e dessa forma cancelar a dívida que todos nós tínhamos perante a Justiça Divina. Dessa forma, todo aquele que crê em Cristo está justificado aos olhos de Deus. Seus pecados foram lavados, perdoados e esquecidos. Não precisamos fazer nada para merecer o perdão e o amor de Deus; apenas crer em seu Filho. Esta compreensão nos livra de toda ansiedade e angústia em relação aos nossos delitos. Tudo já foi pago. Tudo já foi perdoado. Quem está em Cristo está livre da condenação.
2. Produzir o fruto do Espírito: A graça que perdoa é a mesma graça que transforma. A pessoa que vive em relacionamento vital com Cristo (em termos técnicos, alguém "nascido de novo"), possui agora uma nova natureza, que se opõe ao pecado e vive para amar. Esta nova natureza é de ordem espiritual, sobrenatural; não pode ser promovida e mantida pela força de vontade humana. Você precisa depender de Deus para viver como Deus quer. Jesus explicou essa situação comparando a si mesmo com uma videira e nós como os ramos dessa videira. Para produzir fruto (o fruto do Espírito, que é amor, paz, alegria, bondade, domínio próprio, etc.) é preciso estar ligado a Jesus, buscando o enchimento do Espírito Santo a cada dia.
A fera interior continua existindo. A recomendação bíblica é para vigiarmos e orarmos, para não entrarmos em tentação. Só ficaremos totalmente livres do monstro no Novo céu e na Nova Terra, quando seremos transformados à semelhança de Cristo. Até lá, conscientes da graça de Deus, confiando que fomos aceitos em sua família, contamos com o Espírito do próprio Deus para mantermos nossas garras guardadas.