segunda-feira, 20 de maio de 2013

The Walking Dead: É possível ser bom num mundo mau?


Após uma loooooooooooooooonga pausa, motivada por falta de tempo e preguiça, voltei a postar. E nada melhor para falar dessa "ressurreição" do blog do que uma série que fala sobre mortos que voltam a caminhar!


"The Walking Dead" ("Os Mortos que Caminham", em tradução literal) é uma série de tremendo sucesso, cuja terceira temporada acabou de ser apresentada no Brasil pelo canal de assinatura Fox. Ela é baseada na série de quadrinhos de mesmo nome, publicada aqui pela HQM editora. É a história do policial Rick Grimes, às voltas com um mundo infestado por mortos-vivos, onde não há mais governo, comércio, segurança, enfim, todas as coisas que poderiam dar uma sensação de tranqüilidade e estabilidade. A vida se torna uma cruel luta pela sobrevivência.



Rick parte em sua jornada para reencontrar sua esposa e filho. Ele acaba se tornando o líder de um grupo de refugiados, e se sente responsável pela segurança desse grupo.
Desnecessário dizer que muitas coisas terríveis acontecem (inclusive, a versão da TV tem uma certa "suavização"; nas HQs os personagens sofrem muito mais!): o enfoque da narrativa recai sobre os dramas dos personagens em suas interações, e muitas vezes, em nome da sobrevivência, precisam tomar decisões radicais que nunca tomariam em situações normais. 
Aliás, a genialidade da série é a mesma dos bons filmes de zumbis: a ameaça principal não vem dos mortos, mas dos vivos! Mais perigoso do que um zumbi que pode te morder, é um grupo adversário que pode te matar para roubar sua comida ou violentar sua família. Isto rende vários dilemas para todos.




 Rick é visto por outros personagens como "bonzinho" ou "ingênuo" demais. Shane, um dos personagens, diz a ele em várias ocasiões que o tempo de gentileza, solidariedade e justiça ficaram para trás. Este é um novo mundo, em que apenas os mais fortes sobrevivem.




A princípio o policial rejeita essa ideia  mas com o tempo ele mesmo passa a ser mais frio, tomando atitudes cruéis para proteger seu grupo. Isso é visto, inclusive por fãs da série, como a única atitude racional numa situação assim. "Situações extremas exigem medidas extremas", é o mote. Na terceira temporada, o maior inimigo é um homem conhecido como "Governador", que vê no grupo de Rick uma ameaça aos seus planos de poder. Na guerra que se segue, nosso protagonista quase se torna tão vil quanto o "vilão".
Os resultados não demoram a aparecer. A violência acaba gerando mais violência, a desconfiança faz com que possíveis aliados sejam perdidos, e a loucura passa a assediar Rick. Ao final da temporada, ele revê suas atitudes e decide que o caminho para a sobrevivência não é a violência, mas a solidariedade. Veremos o que o futuro da série nos reserva!




Toda boa ficção promove uma reflexão sobre a nossa realidade. O debate ético da série (A vida é uma selva? Só os mais fortes sobrevivem? É preciso escolher entre ser vítima e algoz?) é muito pertinente para nós. Vale à pena ser bom num mundo mau?
Não temos zumbis tentando nos devorar, mas o fato é que vivemos num mundo decaído. A Bíblia nos diz que o pecado atingiu todas as áreas da vida humana e não é exagero dizer que, sob um fino verniz de civilização, somos todos monstros. A posição tomada pelos personagens Shane e Governador é muito comum: "Defenda-se. Sobreviva. Os fins justificam os meios. Moral e ética são contos de fadas. Ser generoso e bom é ser ingênuo, é ser uma vítima".
 Jesus ensinou diferente. Mesmo conhecendo de perto as crueldades que o Império Romano impunha a seu povo, ele disse para amarmos nossos inimigos, orarmos pelos que nos perseguem e oferecermos a outra face quando fôssemos agredidos.

Assim como na ficção, há muitos que dizem que isso é idealismo ingênuo; que não leva em conta as duras realidades da vida; que é preciso crescer e encarar a vida como ela é.
Essas falas parecem muito razoáveis e práticas, mas não resistem a um exame sério. Na verdade, não são nem ao menos realistas. Como mostrado em The Walking Dead, a atitude do "olho por olho" é uma rota suicida. Justamente porque vivemos num mundo caído, precisamos desesperadamente da ética, da misericórdia, da compaixão e da justiça em nossos relacionamentos, ou nos destruiremos em pouco tempo.
Recentemente assisti ao trailer do documentário "Logo Ali", a respeito da África do Sul pós-appartheid. Um dos entrevistados diz que, após a subida ao poder de Nelson Mandela, houve a necessidade de um trabalho de reconciliação entre negros e brancos. Do contrário, o país teria entrado em uma guerra civil tão devastadora quanto interminável.

 
Rick Grimes: "Nós somos os mortos-vivos!"

Jesus nos convida a um outro modo de vida, numa ética da não-violência. E essa não é apenas uma questão de fé, mas de bom senso. Que todos os zumbis e sobreviventes de nossa sociedade conflituosa ouçam as palavras de alerta do apóstolo Paulo: "Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente" (Gálatas 5:15)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Hulk e Wolverine: A Fera Interior

Por que o Incrível Hulk e o Wolverine são tão populares?
Porque eles tornam explícito algo que é comum a todos nós; a luta contra nossa fera interior.

Wolverine e Hulk já se defrontaram várias vezes

O Hulk foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1962. Lee conta que se inspirou na literatura para criar seu drama: mais especificamente, nos romances Frankestein, de Mary Shelley, e O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Todo mundo conhece a história: após a explosão de uma bomba gama, o franzino cientista Bruce Banner se transforma, em momentos de raiva, no monstro verde (às vezes cinza) Hulk. O Hulk, à semelhança do monstro de Frankenstein, não é exatamente mau: apenas quer ser deixado em paz. Porém sua ira é incontrolável e sua grande força faz muitos estragos em propriedades. Quase sempre, o Hulk acaba protegendo a humanidade, derrotando monstros realmente malignos. Porém, isso não impede que os "homenzinhos" (o exército, a polícia) fiquem na cola dele. Bruce Banner, o "médico" dessa equação, tenta a todo custo suprimir ou se livrar de seu monstro. Durante os últimos 50 anos, milhares de fãs têm acompanhado suas tentativas frustradas de controlar o que não pode ser controlado.

O "Golias Esmeralda"

Wolverine surgiu nos quadrinhos em 1974, com roteiros de Len Wein e desenhos de Herb Trimpe, coincidentemente, em uma história do Hulk. James Howlett, conhecido da maioria das pessoas como Logan, é um mutante com mais de um século de idade, com sentidos aguçados como os de um animal e um fator de cura que o torna praticamente imortal. A vida de Logan é marcada pela tragédia desde cedo, tendo visto a crueldade de muitas guerras. Na idade adulta, foi capturado por um projeto secreto do governo chamado Arma X. Neste projeto, enxertaram em seus ossos o metal indestrutível adamantium, o que fez ele se tornar um soldado ainda mais mortífero. Logan escapou do projeto e ficou perambulando pelas matas canadenses, vivendo como um animal, até ser encontrado por um casal que cuidou dele. Mais tarde ele se tornaria agente do serviço secreto canadense, e depois, membro dos X-Men. Wolverine é geralmente apresentado como um selvagem violento, que mata primeiro e pergunta depois. Quando se conhece melhor o personagem, percebe-se que na verdade ele luta para ser diferente. Seu sonho é ser honrado e sereno como um guerreiro samurai. Porém, muitas vezes em meio às batalhas, o herói não consegue conter sua sede de sangue.
O "Baixinho Invocado"

É justamente essa luta que Banner/Hulk e Logan/Wolverine travam todos os dias que faz com que milhares de fãs se identifiquem. Afinal, todos nós já nos sentimos assim. Em vários momentos de nossas vidas, nos descontrolamos, "explodimos" e machucamos pessoas ao nosso redor. Quem sabe o que faríamos se tivéssemos garras de metal nos braços ou a força para derrubar prédios? Quando a fúria passa, nos arrependemos, mas o estrago já foi feito. Prometemos a nós mesmos que vamos nos controlar, mas antes que possamos perceber, a fera interior dá às caras novamente.

A perda de controle

E isso não acontece apenas com a falta de controle da ira. Várias atitudes negativas voltam a nos atacar repetidamente: inveja, ciúme, luxúria, cobiça, mentira, egoísmo, preguiça, indiferença, amargura... A cada manhã prometemos a nós mesmos que seremos pessoas melhores, e ao fim do dia, percebemos que o monstro despertou mais uma vez. Ao pensarmos que um dia teremos de dar contas de nossas vidas a um Deus pessoal e justo, mal conseguimos disfarçar o medo de seu julgamento, pois sabemos o quanto estamos longe de seu padrão.

O Apóstolo Paulo fala sobre isso em sua carta aos Romanos, capítulo 7, versículos 15 a 21:

Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a Lei é boa. Neste caso, não sou eu mais quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, este continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim.

Que declaração honesta e sofrida! No entanto, ela revela a verdade sobre o ser humano muito melhor do que qualquer sistema teológico ou filosófico. Muitas teorias surgiram para afirmar que o homem é intrinsecamente bom; o que o corrompe é a sociedade ou a ignorância. Rosseau é o exemplo clássico disso, e até hoje muitos concordam com ele. O pensamento bíblico é claro: o ser humano é mau desde sua concepção. Ele herdou uma tendência para o egoísmo, para fugir do verdadeiro amor e se voltar para si mesmo. Os teólogos chamam essa tendência inata de "pecado original". Curiosamente, Sigmund Freud, famoso por sua militância contra o cristianismo, tinha uma postura parecida: o homem já nasce com um "defeito de fábrica"; tem uma personalidade cindida e é intrinsecamente egoísta, ciumento e violento, sendo que a sociedade e a cultura ajudam como podem a conter essas pulsões primitivas, não sem graves conseqüências.
Jean-Jacques Rosseau: "O homem é bom"

Sigmund Freud: "O homem é mau"

Qual seria então, a saída? Simplesmente entender que somos assim mesmo, e tocar o barco? Parece ser essa a solução que Banner encontra no filme Vingadores: pouco antes do clímax, o doutor revela qual o segredo para controlar sua transformação: "Eu estou sempre com raiva". A saída seria então, assumir e aceitar esse lado sombrio de nossa personalidade, para que ele não nos controle? Jung defende essa posição, em seus estudos sobre a sombra, o lado obscuro de nós mesmos, que deve ser aceito, compreendido e integrado para uma saúde psíquica.

Carl Gustav Jung: "Aceitar a própria sombra"


O Evangelho, no entanto, apresenta uma outra possibilidade. Não precisamos entrar em desespero com nossas faltas, num perfeccionismo neurótico que não leva a lugar nenhum. Também não precisamos nos conformar com nossas imperfeições, numa atitude conhecida como Síndrome de Gabriela: ("Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...") rsrsrsr. De que maneira devemos lidar com nossa fera interior?

1. Entender e aceitar a graça de Deus: Jesus Cristo, na cruz, pagou o preço de nossas atitudes egoístas (em termos técnicos teológicos, ele fez propiciação por nossos pecados). Cristo assumiu nossa natureza humana para levar em seu corpo os pecados de toda a humanidade, e dessa forma cancelar a dívida que todos nós tínhamos perante a Justiça Divina.  Dessa forma, todo aquele que crê em Cristo está justificado aos olhos de Deus. Seus pecados foram lavados, perdoados e esquecidos. Não precisamos fazer nada para merecer o perdão e o amor de Deus; apenas crer em seu Filho. Esta compreensão nos livra de toda ansiedade e angústia em relação aos nossos delitos. Tudo já foi pago. Tudo já foi perdoado. Quem está em Cristo está livre da condenação.

2. Produzir o fruto do Espírito: A graça que perdoa é a mesma graça que transforma. A pessoa que vive em relacionamento vital com Cristo (em termos técnicos, alguém "nascido de novo"), possui agora uma nova natureza, que se opõe ao pecado e vive para amar. Esta nova natureza é de ordem espiritual, sobrenatural; não pode ser promovida e mantida pela força de vontade humana. Você precisa depender de Deus para viver como Deus quer. Jesus explicou essa situação comparando a si mesmo com uma videira e nós como os ramos dessa videira. Para produzir fruto (o fruto do Espírito, que é amor, paz, alegria, bondade, domínio próprio, etc.) é preciso estar ligado a Jesus, buscando o enchimento do Espírito Santo a cada dia.

A fera interior continua existindo. A recomendação bíblica é para vigiarmos e orarmos, para não entrarmos em tentação. Só ficaremos totalmente livres do monstro no Novo céu e na Nova Terra, quando seremos transformados à semelhança de Cristo. Até lá, conscientes da graça de Deus, confiando que fomos aceitos em sua família, contamos com o Espírito do próprio Deus para mantermos nossas garras guardadas.


sábado, 9 de junho de 2012

O que é a Matrix?



Morpheus: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho... quando vai à igreja... quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus: Que você é um escravo.


Jesus: E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.

Lembro claramente do impacto que tive ao assistir Matrix pela primeira vez. Além de ser o filme de ação mais acachapante que eu já vira, as acaloradas discussões filosóficas com colegas (e até professores) de faculdade estenderam-se por meses a fio. O que á a Matrix? A pergunta já suscitou muitas respostas: é a ideologia capitalista que impregna as relações sociais; é maya, a falsa consciência de que alguma coisa é real, da qual se desperta com meditação; é a caverna da qual Platão falou, da qual ninguém sai impunemente... Quero nesse artigo analisar a Matrix de um ponto de vista cristão.

A Alegoria da caverna de Platão

O cristianismo também trabalha com o conceito de um sistema que existe para dissimular a verdade e escravizar as pessoas. O apóstolo João escreve em sua primeira carta:
"Não amem o mundo, nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 Carta de João, capítulo 2, versículos 15-17)



O uso da palavra "mundo" por João tem sido mal-entendido por muitos. Gerações e gerações entenderam que o cristão não deveria ter amor pelo planeta, pela criação de Deus, ou ainda, que para amar a Deus é necessário odiar os seres humanos. Essa interpretação é absurda, pois o próprio João escreveu em seu Evangelho que "Deus amou o mundo" (Capítulo 3, versículo 16).
O texto bíblico refere-se ao que eu chamo de Anti-Reino, o sistema criado pela humanidade rebelada contra os valores de Deus, sistema esse que valoriza como fins em si mesmos o prazer (cobiça da carne), o consumo (cobiça dos olhos) e a vaidade (ostentação dos bens), e considera como insignificantes e/ou impraticáveis os valores do Reino de Deus, aqueles ensinados por Jesus nos Sermão do Monte. O Anti-Reino mascara a realidade de que a fé é mais potente que o cinismo, que a esperança é mais forte que o medo e de que o amor é mais invencível que a morte. Ele faz muitos permanecerem adormecidos, tal qual na Matrix, imaginando que "o mundo é assim mesmo e não adianta querer ser diferente".


Quando alguém ouve o chamado para seguir a Jesus, ocorre um despertar semelhante ao de Neo: ele descobre que foi enganado a vida inteira, que o mundo não é da maneira como foi ensinado. Esse despertar pode ser gradual ou súbito, mas é sempre, de alguma forma, traumático. A pessoa entende que não dá mais pra viver da mesma forma que vivia. Foi marcado. Não é mais "do mundo". Ele passa a dizer como o poeta hebreu: "Tenho vivido tempo demais entre aqueles que odeiam a paz. Sou um homem de paz, eles só falam de guerra." (Salmo 120: 6-7).
Tal como Neo, o discípulo despertado passa por muitas lutas. O sistema passa a ser seu inimigo, e fará tudo para reassimilá-lo ou destruí-lo. Às vezes até se questiona se não seria melhor ter continuado no seu mundinho de faz-de-conta. Mas ele sabe que não. Ele foi definido, marcado, pelo chamado que recebeu. Foi atraído, despertado e seduzido pela Verdade.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Desafio Infinito: os Vingadores e a luta contra a Morte!



Os nerds foram à loucura ao final do filme Os Vingadores, quando se revela uma figura sombria e misteriosa que estava por trás dos ataques feitos à Terra. Qual o motivo de tanta euforia? Quem é este ser, e porque ele representa tamanha ameaça?


"O nome dele é Thanos", e é um dos personagens mais emblemáticos e interessantes da Editora Marvel. Quando foi criado, em 1973, ele não parecia muito diferente dos demais vilões alienígenas com desejo de conquistar o mundo. Aos poucos, porém, seu criador Jim Starlin foi revelando suas características únicas. A principal motivação de Thanos em realizar seus planos maquiavélicos não é o simples desejo de poder, arrogância ou desprezo pela humanidade (embora ele possua tudo isso). Thanos faz o que faz porque é APAIXONADO... pela Morte!



Isso mesmo! A musa inspiradora de Thanos é a própria Morte, aquela senhora com foice e cara de caveira! Tudo o que o alienígena faz é por amor! Desde jovem ele busca impressionar sua amada. Em uma das maiores sagas da Marvel, Desafio Infinito, Thanos toma posse de seis joias especiais que dão a ele controle sobre o tempo, espaço, poder, mente, espírito e realidade. Com essas armas tão poderosas, num simples estalar de dedos, ele elimina metade da população do universo!


Os Vingadores unem-se a outros heróis e partem pra cima do vilão numa batalha épica.  Thanos vai derrotando os Vingadores um por um, como por exemplo transformando o corpo de Thor em vidro e despedaçando-o! Que esperança poderiam ter os heróis contra um inimigo tão poderoso? É exatamente isso que ele pergunta a um combalido Capitão América em determinado momento (Faz muito tempo que li essa história, e a memória pode estar me falhando, mas em minha memória afetiva o diálogo é mais ou menos assim):

Thanos: "Por que vocês insistem em lutar? Não sabem que já estão derrotados? A morte é definitiva e inescapável. Tudo que vive um dia vai morrer!"

Capitão América: "Não importa. Nós lutamos pelo que há de mais precioso: pela vida! Enquanto houver um fôlego de vida em nós, mesmo contra todas as esperanças, lutaremos. Nunca desistiremos de lutar contra a morte!"


Ao final do arco, após muita luta o bem prevalece, e tudo volta a ser como era antes de Thanos tomar posse das joias do infinito. O personagem voltaria a aparecer outras vezes, algumas como vilão e outras como relutante herói, até finalmente poder descansar nos braços de sua amada (por enquanto).

O que me chamou a atenção em Desafio Infinito foi justamente essa determinação em lutar pela vida por parte dos Vingadores. Eles encaravam a morte como o supremo inimigo, aquele que deveria ser combatido a todo o custo.

E isso tem tudo a ver com o cristianismo.

É claro, existem outras religiões que vêem a morte de uma maneira diferente; como uma aliada, uma amiga, até mesmo uma irmã. Para muitos religiosos, a morte não apenas é uma fase natural do ciclo da vida como transição indispensável para a evolução espiritual. O catolicismo romano, especialmente durante a época medieval, tem essa teologia. Mas a bíblia apresenta a Morte como um inimigo a ser derrotado:

O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Coríntios 15:26)



Na visão do cristianismo bíblico, Deus é o autor e fonte da vida. Ele criou a humanidade para viver de maneira plena. A morte passou a fazer parte da existência humana a partir do momento em que as pessoas se afastaram de Deus. Desde então, Deus instituiu seu plano para conceder vida através de seu Messias, Jesus, que ao morrer e ressuscitar, derrotou a morte.

A esperança do cristão não é uma existência como espírito desencarnado numa dimensão espiritual chamada Céu. Esperamos pela ressurreição de nossos corpos quando Jesus voltar. Loucura? Já vi gente acreditando em coisas bem mais loucas. "Por que os senhores acham impossível que Deus ressuscite os mortos?" (Apóstolo Paulo, em Atos 26:8). Nossa luta contra a morte não é desesperada; sabemos que, ao contrário das aparências, ela é um inimigo derrotado.

Essa concepção da vida e da morte leva os cristãos a compromissos práticos em nossa agenda pró-vida. Um desses compromissos é a luta contra o aborto.


Entendemos que a vida começa no instante da concepção (e não há nenhum argumento sólido filosófico e científico contra isso). Como a vida é preciosa e a morte é o inimigo, combateremos até o fim essa prática abominável, que em nada difere do infanticídio. Não é uma questão dos direitos da mulher: é uma questão do direito do feto à vida. E não adianta falar que a proibição do aborto conduz à perigosa prática dos abortos clandestinos. Nós cristãos somos contra os abortos clandestinos também.


Outra questão polêmica é a da pena de morte. Não consigo entender como alguns cristãos, que lutam contra o aborto por causa do valor da vida, apoiam a pena de morte! O princípio é o mesmo! Alguns dizem que no Antigo Testamento Deus estabeleceu a pena de morte. Exato. No Antigo Testamento. É preciso notar que, à luz da teologia, todos nós merecemos a pena de morte. Mas a graça de Jesus veio para nos dar vida e inaugurar uma nova era de perdão. Passagens bíblicas como Romanos 13:4, a meu entender, falam apenas da autoridade do Estado em portar armas (espada) para manter a ordem; não uma autorização para o Estado usar a espada.

Poderia ainda falar sobre eutanásia, guerra, suicídio e outros assuntos, mas acho que já pude me fazer entender. Temos um Deus que é pró-vida de maneira radical. A Morte é uma inimiga, não uma aliada. Uma inimiga temível, assustadora. Uma inimiga que deve ser combatida até nosso último suspiro, como disse o Capitão América. Felizmente, é uma inimiga já derrotada, e eu estou no aguardo desse dia glorioso em que "não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Apocalipse 21:4)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quem são os deuses de "Game of Thrones"?

Sou fãzaço da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin. Já foram publicados 4 livros no Brasil (já passei da metade do volume 4, e já estou ansioso pela chegada de A Dança dos Dragões no mês que vem). A adaptação da série para a TV, Game of Thrones, apresentada pelo canal HBO, é uma absoluta campeã de audiência. Neste post quero falar sobre um tema extremamente interessante no vasto painel tecido pelo autor: os vários deuses e religiões presentes na série, e que reflexões podemos tirar deles. 

Abertura da série na HBO

George R. R. Martin criou um mundo de fantasia riquíssimo em detalhes. É importante entender que não é o nosso mundo, embora ele possua algumas semelhanças com a nossa Idade Média. A história, a geografia e as leis naturais são diferentes: as estações do ano não têm duração definida (um verão pode durar anos, e um inverno, uma vida inteira); existem criaturas fantásticas como dragões e zumbis (os temíveis Outros). Só os seres humanos permanecem os mesmos.

Aliás, essa é uma das marcas do talento do autor. Os personagens têm muita profundidade psicológica, nenhum deles é totalmente herói ou vilão. A ênfase da história não recai sobre a magia, mas sobre as traições, disputas, decepções e sofrimentos das pessoas. O mundo de Game of Thrones é um mundo "vivo", com política, ecnomia, relações familiares e diferenças culturais. E, como não poderia deixar de ser, com religiões.
Os quatro livros já lançados no Brasil

Existem vários povos diferentes no mundo da saga, os quais o leitor vai conhecendo aos poucos. Cada um desses povos tem sua própria tradição religiosa, com deuses diferentes. Vou falar sobre quatro dessas religiões, e me deterei mais demoradamente em duas: A Fé dos Sete e o culto ao Senhor da luz. As principais divindades do livro e da série são:

  • Os deuses antigos: Divindades sem nome adoradas pelos antigos Filhos da Floresta e pelos Primeiros Homens. Hoje em dia, a maioria das pessoas do Norte os adoram. Sua adoração é realizada em bosques sagrados, onde as pessoas fazem orações diante de árvores-coração, árvores brancas com aparência de rostos humanos. É uma religião na qual os deuses e a natureza não tem uma diferenciação definida.
Um dos deuses antigos
  • O deus afogado: O deus dos mares adorado pelos homens das Ilhas de Ferro. Para este povo, morrer afogado é a maior das dádivas, pois significa banquetear-se para sempre com o deus afogado em seus salões de festa submersos. A personalidade deste deus é semelhante à dos homens que o adoram: impulsivo, cruel e sem hesitar em tomar aquilo que deseja.
  • "Os sete": Na verdade não são sete deuses (embora o povo menos instruído pense assim), mas um único deus que se manifesta sob sete aspectos: o Pai (Supremo Juiz), a Mãe (Senhora de misericórdia), o Guerreiro (que concede vitórias), a Velha (sabedoria), a Donzela (protetora da inocência das jovens), o Ferreiro (patrono de todos os trabalhadores) e o Estranho (figura sem forma definida, adorado por poucos, traz a morte). A Fé dos Sete é a religião prevalecente em Westeros, o continente ocidental. É uma religião bem organizada, com escrituras, rituais e um clero bem desenvolvidos. Tem um elevado padrão ético e filosófico. Porém, a ideia que eu tenho lendo os livros é que esta religião se tornou muito formal e sem vida. A maioria dos personagens não têm muita fé nos Sete deuses. Um dos meus favoritos, Tyrion Lannister, frequentemente zomba da religião e declara que, se os deuses existem, não se interessam muito pelo destino dos mortais. (Na verdade, Tyrion também não acredita em magia, dragões ou criaturas que voltam dos mortos, mas os acontecimentos na série mostram que ele está errado em seu ceticismo). Outra personagem, Catelyn Stark, tem sua fé profundamente abalada quando os deuses não respondem suas orações por proteção à sua família. As tragédias que se abatem sobre pessoas inocentes fazem com que muitos personagens pensem nos Sete como divindades frias e distantes.
Alguns dos "sete"
  • R'hllor, o Senhor da Luz: Aqui temos um quadro totalmente oposto. Esta é uma religião bastante difundida em Essos, o continente oriental. Alguns sacerdotes desta fé se mudaram para Westeros para difundi-la, entre eles Thoros de Myr e Melissandre, a sacerdotisa vermelha. R´hllor é o deus "do fogo, da luz e da vida", segundo seus seguidores. Ele luta eternamente contra o senhor do frio e da escuridão, que não deve ser nomeado. Há uma profecia sobre um Messias denominado Azor Ahai, que destruirá a escuridão com uma espada flamejante. Melissandre empenha-se numa guerra santa para que o Senhor da luz seja o único a ser adorado. Diferentemente dos Sete, R'hllor manifesta seu poder e intervém na história de maneira impressionante. Inimigos são mortos pela magia da sacerdotisa, enquanto Thoros de Myr consegue trazer os mortos à vida! Se os Sete parecem frios e distantes, R'hllor é cruel e sanguinário. Pessoas são queimadas para ele em sacrifícios rituais. Todos que ousam questioná-lo são assassinados. Rituais de magia negra são realizados para exterminar os inimigos.
Melisandre, sacerdotisa de R'hllor

Ao ler os livros e assistir à série de TV, eu fico tentando estabelecer alguns paralelos. Às vezes é fácil, outras vezes não. Proponho a você a seguinte reflexão: se você vivesse naquele mundo, em qual desses deuses acreditaria? Em qual deles você julgaria estar a verdade?

Eu me veria em um dilema. Por um lado, a fé dos Sete fornece respostas filosóficas e uma teologia bem desenvolvida (quase parecida com a doutrina da Trindade, mas escorregando para a heresia conhecida como modalismo), porém, a aparente apatia dos deuses me incomoda bastante. Eu creio num Deus que intervém na história, responde a orações (falo isso por experiência própria), um Deus de poder; minha alma não poderia se contentar com menos.

R`hllor sem dúvida é um deus de poder. Mas sua impiedade e crueldade me causam repugnância. Ele não tem um pingo da misericórdia e compaixão que caracterizam o Deus da Bíblia (mesmo no Antigo Testamento). Não poderia amar esse "Senhor da luz"; apenas temê-lo e odiá-lo.

Graças a Deus eu não preciso viver esse dilema. Não preciso escolher entre um deus inoperante e um deus cruel. O Deus Trino Pai-Filho-Espírito Santo, revelado nas Escrituras sagradas, é o verdadeiro Senhor da Luz, cheio de graça e misericórdia. Seu poder é manifesto a todo o que nele crê; sua graça e sua bondade são acessíveis a todos! Posso ir a ele em oração sabendo que ele tem o poder para me responder e o interesse em fazer o que é melhor por mim. Fico muito feliz de poder fazer minhas as palavras do profeta:

Pois, quando fizeste coisas tremendas, coisas que não esperávamos, desceste,  e os montes tremeram diante de ti. Desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam. (Isaías 64:3,4)

Você gostaria de conhecer esse Deus?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Jesus e o Superman: semelhanças e diferenças

Superman é o meu personagem favorito, e nada melhor do que estrear com ele meu blog sobre Deus na cultura pop. Alguns dias atrás foi divulgada uma notícia sobre o próximo filme do Superman,The Man of Steel (O Homem de Aço), que vai estrear em junho de 2013. Segundo dizem, no novo filme o personagem seria um príncipe do planeta Krypton, e que haveria uma profecia dizendo ser ele o Salvador da Terra.

Superman: Filho do Rei?
Se realmente for asssim, acrescenta-se mais uma semelhança entre o Superman e Jesus Cristo, o Filho de Deus.  Senão, vejamos:

  1. Jesus Cristo foi enviado ao nosso mundo por seu Pai. Kal-El também.
  2. Ambos foram criados por famílias normais
  3. Tanto Jesus como Clark Kent manifestam assombrosos poderes.
  4. Os dois têm como missão de vida salvar a humanidade.
  5. Ambos morreram no cumprimento de sua missão.
  6. Ambos ressuscitaram!




Coincidência? Dificilmente. Qual seria então a razão de tantos pontos de contato? Provavelmente não foi algo intencional por parte dos criadores do Superman. Jerry Siegel e Joe Shuster eram judeus, e não cristãos.

Minha explicação do fenômeno se baseia em minhas convicções cristãs e na posição de teólogos como Francis Schaeffer e C. S. Lewis, e pode ser resumida da seguinte maneira:

  • Deus é o sentido último da existência, e o ser humano, criado à sua imagem, só encontra plena realização em um relacionamento pessoal com esse Deus.
  • O ser humano, por sua livre escolha, virou as costas para Deus e procurou construir sua vida em outras bases, resultando em alienação, vazio e perda de sentido.
  • Jesus Cristo, a expressão exata do ser de Deus, encarnou, tornando-se um ser humano, e através de sua morte e ressurreição efetuou a reconciliação entre Deus e o homem. Ele é o único que pode restaurar o sentido da vida.
  • Ao longo dos séculos, em todas as culturas, o ser humano sentiu dentro de si um anelo por essa reconciliação com Deus. Mesmo sem conhecer Jesus, desejava-o. Podemos encontrar inúmeros exemplos de mitos em culturas antigas que mostram essa indagação, esse anseio por um Salvador, um Messias, um Filho do Rei que viria nos salvar. Pode fazer uma pesquisa em várias mitologias antigas. Você vai encontrar pistas dessa busca, dessa pergunta, cuja resposta é Jesus.
  • Os super-heróis e personagens de contos fantásticos como Star Wars e O Senhor dos Anéis são os mitos de nossa era pós-moderna. Antigamente as pessoas contavam histórias ao redor de fogueiras; hoje, vão ao cinema, acessam à internet, sentam-se na frente da TV, leem um gibi. O inconsciente coletivo deu a esses personagens características desse Messias sonhado por todos. O exemplo do Superman é simplesmente o mais explícito.

Essa análise não ficaria completa sem eu destacar algumas importantes diferenças entre o Superman e Jesus Cristo:

  1. O Superman é MUITO poderoso (às vezes mais, às vezes menos, dependendo da época e do autor), mas Jesus é TODO-poderoso. Não há kryptonita capaz de detê-lo. ;)
  2. Jesus tem uma dupla natureza (divina e humana) enquanto o Superman não. Já posso ouvir você discordar: "Espere aí o Superman tem uma dupla natureza: ele é Superman e Clark Kent; um alienígena e um ser humano." Não, não é assim. Kal-El é um alienígena que se parece com um ser humano, se disfarça como um ser humano e, pelo menos na versão do autor John Byrne, sente e se considera um ser humano. Isso é muito diferente de ser alien e humano ao mesmo tempo. Cristo, no entanto, conforme revelado na Bíblia, é plenamente Deus e plenamente homem ao mesmo tempo. Como Deus, tem todo poder para nos socorrer. Como homem, compreende e se compadece de nossos sofrimentos.
  3. A morte e a ressurreição do Superman foram acidentais. A morte e a ressurreição de Jesus foram essenciais. O Último Filho de Krypton perdeu sua vida ao derrotar, com a última gota de suas forças, o monstro chamado Apocalypse. Por ter uma fisiologia diferente da nossa, pôde ser reanimado com o bombardeio de suas células por energia solar. Veja bem: se as histórias A Morte do Superman e O Retorno do Superman não tivessem existido, ele continuaria sendo o mesmo personagem. Sua missão e seu caráter seriam os mesmos. Com Cristo a história é outra. Sua morte e sua ressurreição são essenciais para compreendermos quem ele é. São essenciais para a nossa vida, para a nossa existência. Como está escrito no Evangelho de Marcos: "O Filho do Homem veio para dar sua vida em resgate de muitos". 
  4. Um deles é um personagem fictício. O outro é real. Dentre os dois, só um é vivo, verdadeiro, e pode fazer diferença em sua vida. Só um responde orações. Só um concede vida eterna. Só um pode fazer a sua vida ter sentido. Se você ainda não sabe qual é qual, estarei orando para que um dia você venha a descobrir. ;)