Após uma loooooooooooooooonga pausa, motivada por falta de tempo e preguiça, voltei a postar. E nada melhor para falar dessa "ressurreição" do blog do que uma série que fala sobre mortos que voltam a caminhar!
"The Walking Dead" ("Os Mortos que Caminham", em tradução literal) é uma série de tremendo sucesso, cuja terceira temporada acabou de ser apresentada no Brasil pelo canal de assinatura Fox. Ela é baseada na série de quadrinhos de mesmo nome, publicada aqui pela HQM editora. É a história do policial Rick Grimes, às voltas com um mundo infestado por mortos-vivos, onde não há mais governo, comércio, segurança, enfim, todas as coisas que poderiam dar uma sensação de tranqüilidade e estabilidade. A vida se torna uma cruel luta pela sobrevivência.
Rick parte em sua jornada para reencontrar sua esposa e filho. Ele acaba se tornando o líder de um grupo de refugiados, e se sente responsável pela segurança desse grupo.
Desnecessário dizer que muitas coisas terríveis acontecem (inclusive, a versão da TV tem uma certa "suavização"; nas HQs os personagens sofrem muito mais!): o enfoque da narrativa recai sobre os dramas dos personagens em suas interações, e muitas vezes, em nome da sobrevivência, precisam tomar decisões radicais que nunca tomariam em situações normais.
Aliás, a genialidade da série é a mesma dos bons filmes de zumbis: a ameaça principal não vem dos mortos, mas dos vivos! Mais perigoso do que um zumbi que pode te morder, é um grupo adversário que pode te matar para roubar sua comida ou violentar sua família. Isto rende vários dilemas para todos.
A princípio o policial rejeita essa ideia mas com o tempo ele mesmo passa a ser mais frio, tomando atitudes cruéis para proteger seu grupo. Isso é visto, inclusive por fãs da série, como a única atitude racional numa situação assim. "Situações extremas exigem medidas extremas", é o mote. Na terceira temporada, o maior inimigo é um homem conhecido como "Governador", que vê no grupo de Rick uma ameaça aos seus planos de poder. Na guerra que se segue, nosso protagonista quase se torna tão vil quanto o "vilão".
Os resultados não demoram a aparecer. A violência acaba gerando mais violência, a desconfiança faz com que possíveis aliados sejam perdidos, e a loucura passa a assediar Rick. Ao final da temporada, ele revê suas atitudes e decide que o caminho para a sobrevivência não é a violência, mas a solidariedade. Veremos o que o futuro da série nos reserva!
Toda boa ficção promove uma reflexão sobre a nossa realidade. O debate ético da série (A vida é uma selva? Só os mais fortes sobrevivem? É preciso escolher entre ser vítima e algoz?) é muito pertinente para nós. Vale à pena ser bom num mundo mau?
Não temos zumbis tentando nos devorar, mas o fato é que vivemos num mundo decaído. A Bíblia nos diz que o pecado atingiu todas as áreas da vida humana e não é exagero dizer que, sob um fino verniz de civilização, somos todos monstros. A posição tomada pelos personagens Shane e Governador é muito comum: "Defenda-se. Sobreviva. Os fins justificam os meios. Moral e ética são contos de fadas. Ser generoso e bom é ser ingênuo, é ser uma vítima".
Jesus ensinou diferente. Mesmo conhecendo de perto as crueldades que o Império Romano impunha a seu povo, ele disse para amarmos nossos inimigos, orarmos pelos que nos perseguem e oferecermos a outra face quando fôssemos agredidos.
Assim como na ficção, há muitos que dizem que isso é idealismo ingênuo; que não leva em conta as duras realidades da vida; que é preciso crescer e encarar a vida como ela é.
Essas falas parecem muito razoáveis e práticas, mas não resistem a um exame sério. Na verdade, não são nem ao menos realistas. Como mostrado em The Walking Dead, a atitude do "olho por olho" é uma rota suicida. Justamente porque vivemos num mundo caído, precisamos desesperadamente da ética, da misericórdia, da compaixão e da justiça em nossos relacionamentos, ou nos destruiremos em pouco tempo.
Recentemente assisti ao trailer do documentário "Logo Ali", a respeito da África do Sul pós-appartheid. Um dos entrevistados diz que, após a subida ao poder de Nelson Mandela, houve a necessidade de um trabalho de reconciliação entre negros e brancos. Do contrário, o país teria entrado em uma guerra civil tão devastadora quanto interminável.
Rick Grimes: "Nós somos os mortos-vivos!"
Jesus nos convida a um outro modo de vida, numa ética da não-violência. E essa não é apenas uma questão de fé, mas de bom senso. Que todos os zumbis e sobreviventes de nossa sociedade conflituosa ouçam as palavras de alerta do apóstolo Paulo: "Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente" (Gálatas 5:15)
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