sexta-feira, 25 de maio de 2012

Quem são os deuses de "Game of Thrones"?

Sou fãzaço da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin. Já foram publicados 4 livros no Brasil (já passei da metade do volume 4, e já estou ansioso pela chegada de A Dança dos Dragões no mês que vem). A adaptação da série para a TV, Game of Thrones, apresentada pelo canal HBO, é uma absoluta campeã de audiência. Neste post quero falar sobre um tema extremamente interessante no vasto painel tecido pelo autor: os vários deuses e religiões presentes na série, e que reflexões podemos tirar deles. 

Abertura da série na HBO

George R. R. Martin criou um mundo de fantasia riquíssimo em detalhes. É importante entender que não é o nosso mundo, embora ele possua algumas semelhanças com a nossa Idade Média. A história, a geografia e as leis naturais são diferentes: as estações do ano não têm duração definida (um verão pode durar anos, e um inverno, uma vida inteira); existem criaturas fantásticas como dragões e zumbis (os temíveis Outros). Só os seres humanos permanecem os mesmos.

Aliás, essa é uma das marcas do talento do autor. Os personagens têm muita profundidade psicológica, nenhum deles é totalmente herói ou vilão. A ênfase da história não recai sobre a magia, mas sobre as traições, disputas, decepções e sofrimentos das pessoas. O mundo de Game of Thrones é um mundo "vivo", com política, ecnomia, relações familiares e diferenças culturais. E, como não poderia deixar de ser, com religiões.
Os quatro livros já lançados no Brasil

Existem vários povos diferentes no mundo da saga, os quais o leitor vai conhecendo aos poucos. Cada um desses povos tem sua própria tradição religiosa, com deuses diferentes. Vou falar sobre quatro dessas religiões, e me deterei mais demoradamente em duas: A Fé dos Sete e o culto ao Senhor da luz. As principais divindades do livro e da série são:

  • Os deuses antigos: Divindades sem nome adoradas pelos antigos Filhos da Floresta e pelos Primeiros Homens. Hoje em dia, a maioria das pessoas do Norte os adoram. Sua adoração é realizada em bosques sagrados, onde as pessoas fazem orações diante de árvores-coração, árvores brancas com aparência de rostos humanos. É uma religião na qual os deuses e a natureza não tem uma diferenciação definida.
Um dos deuses antigos
  • O deus afogado: O deus dos mares adorado pelos homens das Ilhas de Ferro. Para este povo, morrer afogado é a maior das dádivas, pois significa banquetear-se para sempre com o deus afogado em seus salões de festa submersos. A personalidade deste deus é semelhante à dos homens que o adoram: impulsivo, cruel e sem hesitar em tomar aquilo que deseja.
  • "Os sete": Na verdade não são sete deuses (embora o povo menos instruído pense assim), mas um único deus que se manifesta sob sete aspectos: o Pai (Supremo Juiz), a Mãe (Senhora de misericórdia), o Guerreiro (que concede vitórias), a Velha (sabedoria), a Donzela (protetora da inocência das jovens), o Ferreiro (patrono de todos os trabalhadores) e o Estranho (figura sem forma definida, adorado por poucos, traz a morte). A Fé dos Sete é a religião prevalecente em Westeros, o continente ocidental. É uma religião bem organizada, com escrituras, rituais e um clero bem desenvolvidos. Tem um elevado padrão ético e filosófico. Porém, a ideia que eu tenho lendo os livros é que esta religião se tornou muito formal e sem vida. A maioria dos personagens não têm muita fé nos Sete deuses. Um dos meus favoritos, Tyrion Lannister, frequentemente zomba da religião e declara que, se os deuses existem, não se interessam muito pelo destino dos mortais. (Na verdade, Tyrion também não acredita em magia, dragões ou criaturas que voltam dos mortos, mas os acontecimentos na série mostram que ele está errado em seu ceticismo). Outra personagem, Catelyn Stark, tem sua fé profundamente abalada quando os deuses não respondem suas orações por proteção à sua família. As tragédias que se abatem sobre pessoas inocentes fazem com que muitos personagens pensem nos Sete como divindades frias e distantes.
Alguns dos "sete"
  • R'hllor, o Senhor da Luz: Aqui temos um quadro totalmente oposto. Esta é uma religião bastante difundida em Essos, o continente oriental. Alguns sacerdotes desta fé se mudaram para Westeros para difundi-la, entre eles Thoros de Myr e Melissandre, a sacerdotisa vermelha. R´hllor é o deus "do fogo, da luz e da vida", segundo seus seguidores. Ele luta eternamente contra o senhor do frio e da escuridão, que não deve ser nomeado. Há uma profecia sobre um Messias denominado Azor Ahai, que destruirá a escuridão com uma espada flamejante. Melissandre empenha-se numa guerra santa para que o Senhor da luz seja o único a ser adorado. Diferentemente dos Sete, R'hllor manifesta seu poder e intervém na história de maneira impressionante. Inimigos são mortos pela magia da sacerdotisa, enquanto Thoros de Myr consegue trazer os mortos à vida! Se os Sete parecem frios e distantes, R'hllor é cruel e sanguinário. Pessoas são queimadas para ele em sacrifícios rituais. Todos que ousam questioná-lo são assassinados. Rituais de magia negra são realizados para exterminar os inimigos.
Melisandre, sacerdotisa de R'hllor

Ao ler os livros e assistir à série de TV, eu fico tentando estabelecer alguns paralelos. Às vezes é fácil, outras vezes não. Proponho a você a seguinte reflexão: se você vivesse naquele mundo, em qual desses deuses acreditaria? Em qual deles você julgaria estar a verdade?

Eu me veria em um dilema. Por um lado, a fé dos Sete fornece respostas filosóficas e uma teologia bem desenvolvida (quase parecida com a doutrina da Trindade, mas escorregando para a heresia conhecida como modalismo), porém, a aparente apatia dos deuses me incomoda bastante. Eu creio num Deus que intervém na história, responde a orações (falo isso por experiência própria), um Deus de poder; minha alma não poderia se contentar com menos.

R`hllor sem dúvida é um deus de poder. Mas sua impiedade e crueldade me causam repugnância. Ele não tem um pingo da misericórdia e compaixão que caracterizam o Deus da Bíblia (mesmo no Antigo Testamento). Não poderia amar esse "Senhor da luz"; apenas temê-lo e odiá-lo.

Graças a Deus eu não preciso viver esse dilema. Não preciso escolher entre um deus inoperante e um deus cruel. O Deus Trino Pai-Filho-Espírito Santo, revelado nas Escrituras sagradas, é o verdadeiro Senhor da Luz, cheio de graça e misericórdia. Seu poder é manifesto a todo o que nele crê; sua graça e sua bondade são acessíveis a todos! Posso ir a ele em oração sabendo que ele tem o poder para me responder e o interesse em fazer o que é melhor por mim. Fico muito feliz de poder fazer minhas as palavras do profeta:

Pois, quando fizeste coisas tremendas, coisas que não esperávamos, desceste,  e os montes tremeram diante de ti. Desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam. (Isaías 64:3,4)

Você gostaria de conhecer esse Deus?

21 comentários:

  1. É isso! Parabéns pelo texto! Um abraço!

    Vitor Torres

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    1. Obrigado, Bito-Bito! Então você tem um blog também?

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  2. Ótimo texto! Estarei visitando aqui sempre que possível!
    Lele

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  3. Achei muito interessante sua descrição dos diferentes tipos de fé em Westeros. Gostaria de saber mais a fundo a visão de George R.R. Martin sobre religiões, pois a mim parece uma crítica do mesmo a determinadas religiões que seus Deuses não se manifestam no mundo real.

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    1. É difícil saber qual é a visão pessoal do Martin, pois ele sempre escreve os capítulos a partir do ponto de vista de cada personagem. Alguns, como Tyrion, são completamente céticos, enquanto outros, como Davos, são mais devotos. Também não sei se ele tem a pretensão de fazer uma crítica às religiões de nosso mundo, ou apenas ter a liberdade criativa no criou. Tolkien, por exemplo, sempre dizia que sua obra não era uma alegoria de nada e que naomadiantava ficar buscando paralelos entre o Senhor dos Anéis e o nosso mundo. De qualquer forma, obrigado pelos comentários!

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  4. Gostei muito de seu texto. Também sou cristã (católica) e estou lendo A Guerra dos Tronos. Assim como você, me peguei traçando paralelos entre as religiões do nosso mundo e as religiões do livro haha. Seu texto confirmou minhas teorias e me ajudou a entender melhor o livro :)

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    1. Fico feliz por ter ajudado! Isso me anima a voltar a escrever (só não sei quando, rsrs)! Um abraço!

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  5. Valar Morghulis, Valar Dohaeris. Fazer morrer o velho homem, aquele que não nascer denovo... O filho do homem veio para servir... Este é um dos vário paralelos que eu faço o tempo todo durante a série.
    Gostei de mais do seu texto, e foi um dos poucos que encontrei sobre uma cosmovisão cristã a certa da série, que é riquíssima,
    Uma paralelo muito legal que eu observei, e me diga o que acha a respeito, é que a muralha serviria de separação entre um mundo espiritual ao norte, e ao sul um mundo humano. Enquanto toda a trama é escrita e os diversos personagens vivem suas histórias, muitos ignoram ou negam a existência destes seres. É muito legal ver os "corvos" como profetas ou soldados que fazem a ligação entre estes dois mundos como portadores da verdade. Eu me identifico muito com o John Snow. Acho muito legal a forma como ele vive estes dois mundos, e como todo humano tem suas falhas e fraquezas. No final da 3º temporada a própria Melissandre muda seus planos diante das mas novas (Um não evangelho) trazido pelos corvos... Agora basta aguardar a 4º temporada para ver no que tudo isso vai dar. Ainda não tive animo para ler os livros, mas sou muito fã da série, e traço esses paralelos o tempo todo... Um grande abraço e parabéns pelo post.

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  6. Uai, não sabe fazer um comentário sobre uma série sem tentar catequizar as pessoas que leem? que mania de ficar pregando a própria fé em todos os lugares.

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    1. onde está a liberdade de expressão todos têm direito inclusive você

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    2. onde está a liberdade de expressão todos têm direito inclusive você

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  7. e o deus de muitas faces? adorado pelos homens sem face

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  8. Tô botando fé no Deus da Melissandre, contra fatos não há argumentos. Mata a cobra e mostra o Pau.
    heheheheh

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  9. Putz. O texto começou bem, mas terminou com uma pregação proselitista. Bom, dentre os milhares de deuses existentes o que menos me afeiçoa é justamente Jeová, considerando sua história de crimes, preconceitos e injustiças. Se buda fosse um deus, talvez eu adorasseele, embora discorde de muitas coisas. No mundo real bom mesmo é ser cético

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  10. Estava todo feliz lendo o texto... até que, de repente, começou um discurso religioso, monótono, moralista e contraditório. Que decepção! Só depois que fui ler o título do blog “nerdcristo”.

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  11. Não teria também o Deus de muitas faces?

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  12. Qual Deus eu escolheria? Nenhum, pois sou ateísta aqui e continuaria o sendo lá. Mas o post foi muito esclarecedor. O rogada'

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    1. Somos duas. Não foi cômica a "tirada" do autor do texto no final?

      "Mas sua impiedade e crueldade me causam repugnância. Ele não tem um pingo da misericórdia e compaixão que caracterizam o Deus da Bíblia (mesmo no Antigo Testamento). Não poderia amar esse 'Senhor da luz'; apenas temê-lo e odiá-lo."

      Ah, se ele lesse a Bíblia inteira, e não apenas os versículos bonitinhos que seu líder religioso manda...

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  13. O deus da morte seguido pelo povo de Bravos seria o "Estranho"? Pertencendo, então, aos sete?

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  14. "Mas sua impiedade e crueldade me causam repugnância. Ele não tem um pingo da misericórdia e compaixão que caracterizam o Deus da Bíblia (mesmo no Antigo Testamento). Não poderia amar esse 'Senhor da luz'; apenas temê-lo e odiá-lo."

    Oi? Amigo, acho que você está lendo a Bíblia errada! Sacrificar crianças como a Shireen em nome do Senhor da Luz é - perdão pelo trocadilho - "brincadeira de criança" se comparado às barbaridades cometidas por Deus e seus seguidores segundo a Bíblia, especialmente no Antigo Testamento. Eis uma pequena lista SÓ DE GÊNESIS:

    Deus gostou mais do sacrifício de Abel do que dos legumes de Caim. Por que? Bem, nenhuma razão é determinada, mas provavelmente tem algo a ver com a quantia de dor e sangue envolvidos. [Gn 4:3-5]

    Porque Deus gostou mais do sacrifício de Abel do que dos legumes de Caim, este mata seu irmão Abel por ciúmes religioso. [Gn 4:8]

    Deus está bravo. E decide destruir todos os humanos, animais, répteis e aves, "para desfazer toda carne em que há espírito de vida." Ele planeja afogar todos. [Gn 6:7], [6:17]

    Deus repete a intenção de matar todos. Mas por que Deus mata todos os animais inocentes? O que eles fizeram para merecer a sua ira? [Gn 7:4]

    Deus mata toda substância que havia sobre a face da terra. De bebês recém-nascidos até animais - todas as criaturas, grandes e pequenos. [Gn 7:21-23]

    Noé mata "todo animal limpo" e queima os corpos mortos para Deus. De acordo com isto, teria causado a extinção de todos os animais " limpos" que foram levados para a arca. "E o Senhor cheirou o suave cheiro." [Gn 8:20]

    Para livrar Ló do cativeiro, Abrão envia um exército de escravos procurarem e matarem seus sequestradores. [Gn 14:14-15]

    Deus diz para Abrão matar alguns animais para ele. A matança desnecessária faz Deus se sentir bem. [Gn 15:9-10]

    Agar concebe, causando ciúmes a Sarai. Abrão diz para Sarai que faça o que quiser com Agar. "E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face." [Gn 16:6]

    Ló se recusa deixar dois anjos a mercê de um bando de pervertidos, e ao invés disso, ele oferece as duas "filhas virgens." Ele diz para o grupo de estupradores: "fareis delas como bom for nos vossos olhos." Este é o mesmo homem que é chamado de "justo" em [II Pe 2:7-8]. [Gn 19:8]

    Deus mata todo mundo (homens, mulheres e crianças) em Sodoma e Gomorra fazendo "chover enxofre e fogo." Bem, quase todo o mundo - ele poupa Ló o "justo", e sua família. [Gn 19:24]

    A mulher de Ló (sem nome) olha para trás, e Deus a transforma numa estátua de sal. [Gn 19:26]

    Sara, depois de dar à luz a Isaque, se indispõe novamente com Agar (veja em [Gn 16:5-6]) e fala para Abraão mandá-la embora, assim também como seu filho. Deus diz para Abraão escutar a voz de Sara. Assim Agar e Ismael são expulsos e enviados ao deserto para morrer. [Gn 21:10-14]

    Deus ordena que Abraão mate Isaque e ofereça-o em holocausto. Abraão mostra o amor dele por Deus pela vontade de assassinar o seu filho. Mas antes da garganta de Isaque ser cortada, Deus pede no lugar de seu filho, um carneiro. [Gn 22:2-13]

    Abraão mostra sua vontade em matar o próprio filho para Deus. Só um Deus perverso pediria para um pai que fizesse isso; só um pai louco estaria disposto a fazer isto. [Gn 22:10]

    Diná, a filha de Jacó, é tomada por um homem que parece a amar afetuosamente. Os irmãos dela enganam todos os homens da cidade e os matam (depois de ter circuncidado a todos), e então levam as suas esposas e crianças como escravos. [Gn 34:1-31]

    Os filhos de Jacó circuncidam "todos os que saíam da porta da cidade." Então eles entram na cidade e matam todos os machos e levam cativas suas esposas. {Gn 34:24-29]

    "O terror de Deus foi sobre as cidades que estavam ao redor deles." Eu não sei o que é o "terror de Deus", mas aposto que não é uma coisa agradável. [Gn 35:5]

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