sábado, 9 de junho de 2012

O que é a Matrix?



Morpheus: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho... quando vai à igreja... quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus: Que você é um escravo.


Jesus: E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.

Lembro claramente do impacto que tive ao assistir Matrix pela primeira vez. Além de ser o filme de ação mais acachapante que eu já vira, as acaloradas discussões filosóficas com colegas (e até professores) de faculdade estenderam-se por meses a fio. O que á a Matrix? A pergunta já suscitou muitas respostas: é a ideologia capitalista que impregna as relações sociais; é maya, a falsa consciência de que alguma coisa é real, da qual se desperta com meditação; é a caverna da qual Platão falou, da qual ninguém sai impunemente... Quero nesse artigo analisar a Matrix de um ponto de vista cristão.

A Alegoria da caverna de Platão

O cristianismo também trabalha com o conceito de um sistema que existe para dissimular a verdade e escravizar as pessoas. O apóstolo João escreve em sua primeira carta:
"Não amem o mundo, nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 Carta de João, capítulo 2, versículos 15-17)



O uso da palavra "mundo" por João tem sido mal-entendido por muitos. Gerações e gerações entenderam que o cristão não deveria ter amor pelo planeta, pela criação de Deus, ou ainda, que para amar a Deus é necessário odiar os seres humanos. Essa interpretação é absurda, pois o próprio João escreveu em seu Evangelho que "Deus amou o mundo" (Capítulo 3, versículo 16).
O texto bíblico refere-se ao que eu chamo de Anti-Reino, o sistema criado pela humanidade rebelada contra os valores de Deus, sistema esse que valoriza como fins em si mesmos o prazer (cobiça da carne), o consumo (cobiça dos olhos) e a vaidade (ostentação dos bens), e considera como insignificantes e/ou impraticáveis os valores do Reino de Deus, aqueles ensinados por Jesus nos Sermão do Monte. O Anti-Reino mascara a realidade de que a fé é mais potente que o cinismo, que a esperança é mais forte que o medo e de que o amor é mais invencível que a morte. Ele faz muitos permanecerem adormecidos, tal qual na Matrix, imaginando que "o mundo é assim mesmo e não adianta querer ser diferente".


Quando alguém ouve o chamado para seguir a Jesus, ocorre um despertar semelhante ao de Neo: ele descobre que foi enganado a vida inteira, que o mundo não é da maneira como foi ensinado. Esse despertar pode ser gradual ou súbito, mas é sempre, de alguma forma, traumático. A pessoa entende que não dá mais pra viver da mesma forma que vivia. Foi marcado. Não é mais "do mundo". Ele passa a dizer como o poeta hebreu: "Tenho vivido tempo demais entre aqueles que odeiam a paz. Sou um homem de paz, eles só falam de guerra." (Salmo 120: 6-7).
Tal como Neo, o discípulo despertado passa por muitas lutas. O sistema passa a ser seu inimigo, e fará tudo para reassimilá-lo ou destruí-lo. Às vezes até se questiona se não seria melhor ter continuado no seu mundinho de faz-de-conta. Mas ele sabe que não. Ele foi definido, marcado, pelo chamado que recebeu. Foi atraído, despertado e seduzido pela Verdade.

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